11/05/2015 13h59 - Atualizado em
07/03/2017 15h07
Plantio direto na palha proporciona economia de água em propriedades rurais
De acordo com a pesquisadora do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Maria da Penha Angeletti, o Sistema de Plantio Direto (SPD) na Palha é elencado pela Agência Nacional de Águas como tecnologia produtora de água devido ao seu efeito no aumento da infiltração da água no solo; na redução da evaporação da água da superfície; e no aumento da retenção de água na terra, com potencial para recarga de aquíferos.
“Os resultados são muito efetivos em outras regiões do Brasil, registrando-se redução de erosão em 90% em relação ao sistema de agricultura convencional; economia de água nos plantios em 30% ou mais, conforme a cultura, o que torna essa tecnologia de grande importância para a convivência com situações de escassez de água e irregularidades climáticas”, falou Maria da Penha.
A pesquisadora explicou que o SPD se fundamenta em três princípios: redução e eliminação de operações de aração e gradagem para o preparo do solo, o que restringe a mobilidade do solo apenas às linhas de plantio; formação e manutenção de cobertura de palha permanente sobre o solo; e realização da rotação das culturas, alternando as lavouras econômicas com plantas de cobertura, para formação de palhada.
“A palhada é decomposta por vários organismos do solo, aumentando a quantidade de matéria orgânica disponível. Conforme a literatura científica, cada um grama de matéria orgânica do solo pode reter até 20 gramas de água, conforme a qualidade da matéria orgânica”, falou Maria da Penha.
Tecnologia testada e aprovada pelos agricultores
Os benefícios do Sistema de Plantio Direto na Palha (SPD) têm sido comprovados há cinco anos, na prática, pelo agricultor da comunidade de Alto Rio Triunfo, em Santa Maria de Jetibá, Evelson Sanche, que também integra o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Maria de Jetibá (STRSMJ). No ciclo da cultura do repolho, que dura em torno de três meses, ele irrigou a área apenas oito vezes. “Em um plantio convencional, sem ser pelo plantio direto na palha, costuma-se irrigar a lavoura a cada dois dias, o que significa que, ao fim do ciclo da cultura, irrigou-se quatro a cinco vezes mais do que seria pelo plantio direto”, informou Sanche.
Evelson Sanche confirmou que a erosão também diminuiu na área onde foi feito o plantio direto na palha em sua propriedade. “Antes dava corredeira na terra arada. Agora não tem mais porque a água penetra no solo”, disse o agricultor. É importante destacar que Evelson já tinha um perfil conservacionista, conhecia os benefícios da incorporação das palhas e restos de lavouras no solo e resolveu adotar o SPD após uma viagem de estudos ao Paraná, organizada pelo Incaper, em 2010, como ação de projeto de pesquisa participativa financiado com recursos do CNPq e Incaper.
“O grande diferencial na decisão de adotar o Sistema Plantio Direto na Palha é o pensamento de não apenas extrair da terra a produção econômica, mas também passar um período em cada ano cultivando plantas especiais que melhoram a terra de maneira natural”, disse a pesquisadora Maria da Penha.
Redução de custo e de mão de obra
O agricultor Evelson Sanche também afirmou que houve redução de custo na produção e também diminuição da mão de obra. “Além da redução de custo com a irrigação e adubo, o manejo do controle de mato é feito manualmente, não precisa capinar, o que diminui a necessidade de mão de obra. Também reduzi o uso de maquinário. Agora uso apenas a roçadeira, uma cavadeira simples, e a plantadeira manual de grãos, a matraca”, afirmou. Também disse que, com a nova ferramenta que chegou, a matraca de mudas, espera facilitar ainda mais o seu trabalho, pois não precisa abaixar para plantar.
A redução de custo também foi levantada pela agricultora Margarida Strey, da comunidade São Bento do Garrafão, em Santa Maria de Jetibá. Ela contou que desde 2012 faz o plantio direto na palha e já plantou milho, feijão de porco, feijão e beterraba. A incidência de doenças na sua plantação diminuiu, o que reduz o custo de agroquímicos. “Não estava dando nada na terra com a adubação. Começamos o plantio direto na palha e aumentou a produção. Não deu doença na beterraba. Queremos plantar novamente feijão e milho verde”, falou a agricultora.
Indicações do Sistema de Plantio Direto na Palha
De acordo com a pesquisadora Maria da Penha Angeletti, por meio de projeto de pesquisa e desenvolvimento do Incaper, os princípios do Sistema de Plantio Direto na Palha têm sido adaptados, no Espírito Santo, ao cultivo de culturas olerícolas e grãos, como feijão e milho. “O SPD é aplicado no cultivo de lavouras anuais, de ciclo curto. No entanto, nas culturas perenes, como frutíferas, a formação de uma camada de palha para cobertura do solo pode ser aplicada com sucesso, cultivando-se as plantas de cobertura nas “ruas” ou corredores das plantações”, explicou Angeletti. Essa utilização em frutíferas já foi cientificamente comprovada em outras regiões do Brasil e está sendo feita na Escola Família Agrícola São João do Garrafão, que cultivou em 2014 aveia preta em associação com lavoura de laranja.
Ela também disse que o Sistema de Plantio Direto na Palha é uma tecnologia universal, que pode ser usada tanto na agricultura orgânica quanto na convencional; na agricultura familiar ou empresarial. “Essa tecnologia resgata a sustentabilidade na agricultura. É um alinhamento com a natureza, pois segue o modelo de acumulação de matéria orgânica da floresta”, disse a pesquisadora.
Desafios e expansão da tecnologia
Atualmente, no Espírito Santo, o Sistema de Plantio Direto na Palha tem sido aplicado nos municípios de Santa Maria de Jetibá e Laranja da Terra, a partir da formação da Rede de Ações em Sistema Plantio Direto na Palha, uma iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Maria de Jetibá (STRSMJ), em parceria com agricultores familiares, Escola Família Agrícola de São João do Garrafão, escritórios locais do Incaper e Centro Regional de Desenvolvimento Rural Centro Serrano.
De acordo com a extensionista do Incaper, Tálita Fideles, que participa do projeto desde 2013, os agricultores da Rede que utilizam o plantio direto na palha estão distribuídos por todo o município de Santa Maria de Jetibá, dando visibilidade à tecnologia na região. “Essas propriedades tornaram-se unidades de referência e divulgação da tecnologia”, disse Tálita.
A tecnologia do SPD é inovadora e dinâmica e precisa ser adaptada a cada realidade local. Para saber mais informações sobre o Sistema de Plantio Direto na Palha, entre em contato com os escritórios locais do Incaper, em Santa Maria de Jetibá, pelo telefone (27) 3263-1367, onde a referência é a técnica Tálita Fideles; em Laranja da Terra, pelo telefone (27) 3736-1171, onde a referência é o técnico Anderson Pilon; e com o Centro Regional de Desenvolvimento Rural Centro Serrano, do Incaper, pelo telefone (27) 3248-1181, onde a referência é a pesquisadora Maria da Penha Angeletti.
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Texto: Luciana Silvestre
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