26/05/2015 14h24 - Atualizado em 07/03/2017 15h07

Comissão de Agricultura debate os desafios do mercado do café



O secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca, Octaciano Neto foi um dos convidados para o debate sobre os desafios do mercado de café, que aconteceu na manhã desta terça-feira (26) na Assembleia Legislativa (Ales). Organizado pela Comissão de Agricultura, o encontro contou também com a participação de lideranças ligadas ao setor cafeeiro, secretários municipais de Agricultura e representantes de cooperativas, associações e outras entidades.


Na ocasião, foi discutido o trabalho de mobilização feito pelo Governo do Estado, juntamente aos demais setores da agricultura, que resultou na suspensão da Instrução Normativa do Ministério da Agricultura, que liberava a importação de café arábica do Peru (10 mil sacas de grãos verdes), e que gerou uma série de protestos de Estados produtores, como Espírito Santo e Minas Gerais.


Conforme publicação no Diário Oficial da União da última quinta-feira (21), foram alteradas regras para se autorizar a importação dos grãos. Agora, a Organização Nacional de Proteção Fitossanitária (ONPF) do Peru deverá apresentar plano de trabalho que necessita ser aprovado, no Brasil, pelo Departamento de Sanidade Vegetal (DSV) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).


Esse plano de trabalho deverá conter, segundo o Conselho Nacional do Café, informações sobre produção, pragas presentes e tratamentos fitossanitários utilizados, assim como medidas de mitigação de risco de envio de pragas no comércio internacional do produto. A aprovação do plano de trabalho pelo DSV passa a ser condição para se autorizar a importação dos grãos.


Octaciano Neto comentou sobre algumas das consequências que a suspensão da normativa conseguiu evitar. Primeiro ele destacou os riscos fitossanitários. “afinal, com o fungo presente na cacauicultura do Peru, a nossa produção de café correria o risco de adquirir essa doença que seria, no mínimo, devastadora”, disse.


O secretário também relembrou a respeito do risco comercial. Com a vinda dos grãos do Peru, o preço de café para o produtor capixaba diminuiria e, segundo ele, como o Governo de Minas era a favorável à mudança em função da instalação de uma fábrica em Montes Claros, o Espírito Santo foi o líder nacional dessa mobilização, de fazer o Ministério da Agricultura retroagir na decisão que já havia sido liberada. “Dez mil sacas não iriam abalar a cafeicultura, mas foi uma forma que o Ministério viu de testar a opinião pública para depois liberar um a dois milhões de sacas e, graças à união de esforços no Estado, eles voltaram atrás da decisão”, relembrou.


De acordo com o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado do Espírito Santo (Fetaes), Reginaldo Armelão, essa questão já vem sendo discutida desde 2007, na época que o Governo Federal já propunha a importação do café Conilon do Vietnã. “Se nós somos grandes produtores de café não haveria o porquê desta importação e por isso, para nós foi uma vitória”, disse.


Para Octaciano Neto, apesar de, o café ter um papel essencial na estabilidade social do Estado e ser protagonista em mais de 55 municípios do Estado, é preciso também investir em outras áreas agrícolas. “Precisamos diversificar, e cada propriedade rural tenha fruticultura, pecuária de leite, olericultura, tenha novas opções, e formar uma cesta de produtos que faz com que, em momentos que uma atividade esteja ruim, tenha outra que vai ficar boa e, o Incaper vai buscar fazer um movimento para ampliar as diversidades rurais em cada uma das propriedades.


A presidente da Comissão de Agricultura, a deputada Janete de Sá, encerrou a reunião propondo o estabelecimento de um novo fórum de acompanhamento para que se possa evitar futuras movimentações. Ela também propôs que seja constituído um documento em conjunto e encaminhado para o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Agrário para colocar a preocupação constante e de defesa para o café do Espírito Santo.


Entenda o caso


No final do mês passado foi publicada no Diário Oficial da União a Instrução Normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Nº 6, de 29 de abril de 2015, que autorizava a importação de grãos de café arábica produzidos no Peru.


A medida provocou fortes reações do Governo capixaba e dos representantes dos diversos elos da cadeia produtiva do café. O governador Paulo Hartung chegou a encaminhar uma carta à presidente Dilma solicitando a suspensão da autorização para a importação dos grãos peruanos.


Para o secretário de Estado da Agricultura, Octaciano Neto, a importação do café peruano representa uma ameaça real às plantações locais, devido ao risco de trazer doenças patogênicas e pragas quarentenárias de outras culturas para as lavouras brasileiras e capixabas.



Com a importação de café verde pode-se estar facilitando a entrada de materiais infectados. Um grão verde de café pode ser o veículo de pragas e doenças para a lavoura cafeeira e até mesmo para outras culturas. No Peru, há uma praga letal para o cacau, um fungo chamado monília, que pode trazer consequências desastrosas para os cultivos nacionais.


“Não é justo colocar em risco a agricultura brasileira, liberando importações sem a devida segurança. Além disso, estamos iniciando nossa colheita e sabemos que em momento de safra há oferta de café novo no mercado, culminando com expectativas de preços baixos. Essa notícia também afeta mercados e cria uma enorme tensão no meio rural”, destaca o secretário Octaciano Neto.



Competição desleal



As leis brasileiras relativas às questões sociais, trabalhistas e ambientais estão entre as mais rigorosas do mundo e o Código Florestal brasileiro impõe aos agricultores a preservação e a recuperação dos recursos naturais, o que aumenta significativamente os custos de produção. Porém, outros países, como é o caso do Peru, não têm esse mesmo rigor e, por isso, seus custos de produção são bem menores. A importação dos grãos peruanos caracteriza, portanto, uma competição desleal com os produtores capixabas e brasileiros.


“Essa decisão é um desrespeito a tudo e a todos que estão envolvidos numa cafeicultura sustentável. No caso do Espírito Santo, uma cafeicultura construída com muito investimento, pesquisa e sacrifício dos cafeicultores, que este ano já estão sofrendo com a grave estiagem que prejudicou a qualidade e a produtividade da safra”, ressalta o secretário de Agricultura.


Panorama do Café no Espírito Santo



A cafeicultura capixaba possui uma diversidade de sabores que é reconhecida pelo mercado internacional. Ela está presente em pelo menos 60% das propriedades rurais do Estado e envolve 131 mil famílias e 400 mil pessoas em toda sua cadeia produtiva.


- O Espírito Santo é o segundo produtor nacional de cafés, com 12,8 milhões de sacas beneficiadas colhidas em 2014, participando com 28,24 % da produção nacional.


- O Espírito Santo lidera a produção nacional de Conilon, com 9,9 milhões de sacas, o que corresponde a 75% do total produzido dessa espécie de café no Brasil no ano passado.


- O Espírito Santo é considerado por especialistas como o Estado com a cafeicultura mais completa do Brasil; produz em quantidade e com qualidade as duas espécies de café consumidas no mundo, o arábica e o conilon.


- A cafeicultura representa, em média, de 35 a 40% do Valor Bruto da Produção Agropecuária do Estado, e se constitui na principal atividade socioeconômica para cerca de 70% dos municípios capixabas.

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Daniel Simões
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Texto: Daniel Simões e Tatiana Caus
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